domingo, 10 de maio de 2009

Lembro-me como se fosse ontem.

Todas as noites, agora, parecem-me incrivelmente longas e insones. Por vezes, pensei sentí-lo respirando, enquanto dormia calma e pesadamente ao meu lado. Tudo me parece tão próximo, mas ao mesmo tempo tão distante. Na tentativa incessante de cair no sono, surge sempre um indizível silêncio que não vem de fora, mas de dentro, de uma fonte que rumoreja, misteriosa. Sinto-me encaixotado em um infinito silêncio e em um escuro invisível no meu peito. Por vezes, os relógios pronunciam alto um número na treva, e a noite é negra e morta, mas eu entendo com plenitude o sentido dessa escuridão interminável e vazia. Comecei a refletir sobre como eu poderia me refugiar e me poupar do sensacionalismo. Recordei-me, então, de todos os caminhos que conduziam à morte. Pensei em todas as possibilidades de me destruir, mas não foi o suficiente. Preciso de morfina. Tomaria esse veneno doce-amargo se ele me garantisse um adormecer suave. Não tê-lo preso em meus pensamentos, poder descansar, repousar no infinito, não mais sentir os golpes nostálgicos no coração. A ideia de adormecer suavemente me atrai, posso sentir o gosto amargo em meus lábios, juntamente à noite macia, leve e serena. Fi-lo. Não obtive sucesso. Tentativa inútil. Aquele mesmo pensamento estabelecido insiste em me rondear de forma incessante. Não há remédio que cure, não há pensamento que se preze a dividir lugar com o dito cujo. É sempre a mesma coisa: Apago a luz, vou para a cama solitária, e por conta do frio, cubro-me, afago-me por entre os cobertores, mas fico deitado insone até o amanhecer.

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